Sinus
A palavra Sinus vem do latim e significa seio, bolso, cavidade, vela de barco, espaço oco. Dela origina-se Sinuosus, sinônimo de torcido, dobrado, sinuoso. Termos que nomeiam formas com as quais convivemos e que nos remetem a diferentes sensações de movimento, elegância, aconchego e sensualidade.
Esta série, que iniciei em 2022, surge a partir de meus constantes experimentos com o torno e da relação de espaço que criei do meu corpo com a argila ao longo do tempo. Construo cilindros que, depois de serem cortados, torcidos e reestruturados, transformam-se em formas de maior expressão escultórica, ganhando movimento e efeitos de sombra e luz. A matéria, inicialmente mole, desafia a lei da gravidade e é levada a testar suas limitações estruturais para satisfazer minhas vontades. As paredes de argila são tensionadas e arqueadas para se adequar à influência de uma força externa, assim como tive de me adequar às limitações que me foram impostas pela cegueira.
Cego há mais de 30 anos e com praticamente o mesmo tempo de trabalho com a escultura, utilizo a plasticidade do barro para criar peças que possam ser apreciadas não apenas pela fruição visual, mas também tátil. Minhas mãos constroem formas e volumes, passeiam pelos espaços planos, cheios e vazios das esculturas no ritmo de minhas emoções.
As linhas curvas e sinuosas sempre me fascinaram e, agora, quero explorar todo seu potencial plástico e sensitivo, construindo obras abstratas que possam nos seduzir com suas formas que, apesar de não representarem nada figurativo, nos transportam para algum lugar muito familiar.