Olho Interior
Iniciei os estudos em escultura tomando meu corpo como principal referência para a compreensão da anatomia e sua relação com o espaço. Para tanto, precisei aprimorar meu sentido tátil, não só das mãos, mas de toda minha pele. Durante quatro anos, estudei no atelier do professor e artista plástico Angel San Martín, que muito generosamente me passou parte dos seus conhecimentos práticos e teóricos na arte de modelar argila. Foi ainda sob sua supervisão que comecei a produzir peças com alguma qualidade artística e que mereceram ser fundidas em bronze. Dentre elas, estão esculturas criadas a partir de estudos que fiz de minhas mãos, como as obras “Leitura” e “Toc-Toc”, e também algumas figuras mitológicas como o “Centauro”, que modelei fazendo uma releitura de pinturas acadêmicas.
O conjunto destas obras, 12 no total, foi apresentado em uma exposição intitulada “O Olho Interior”, minha primeira individual realizada no Centro Cultural São Paulo em 1995.
“Numa obra de arte tridimensional com características antropomórficas, dizia Michelângelo, deve existir a projeção do próprio corpo, ou seja, a busca da sensibilidade total.
Em Rogério nota-se, além dos seus conhecimentos básicos e fundamentais do estudo da escultura, a passagem de sua estrutura física que, espiritualizada, chega à argila com expressão e vitalidade. Sua percepção globalizada da forma, que no início do aprendizado era laboriosa, torna-se consciente em seus corpos de modelação sensível, em suas mãos que dialogam com a alma e se fundem em bronze de extrema pureza. Em nosso artista a arte não é simplesmente expressão terapêutica, mas sim e tão somente, arte consciente, decantada e processada.
Considerando sua evidente determinação e sensibilidade na percepção e geração das formas estéticas, não obstante sua deficiência visual, Rogério tem o merecimento necessário para expor seus trabalhos como exemplo de esforço digno da maior admiração.” Angel San Martín, Professor e Artista Plástico